Friday, April 5, 2024

A Viagem de Luhkien - Parte 1



“Jovem Luhkien, contemple: a Zona de Transição!”

O tom usado por Mestre Eustahk foi tão pomposo e exagerado que chegou a soar um tanto cômico. Ainda assim, seu Discípulo - Luhkien - tinha de admitir para si mesmo que a Zona de Transição era de fato uma visão impressionante… mais que merecedora de ser anunciada com tamanha grandiloquência.


À primeira vista, ela parecia uma imensa tempestade em alto mar. Brotando diretamente das ondas, e já a uma proximidade perturbadora da hidronave levando a bordo o Mestre e seu Discípulo.


Sob um segundo olhar mais atento, porém, logo ficava claro que a suposta tormenta apresentava… peculiaridades demais, e exóticas demais, para poder ser realisticamente considerada apenas um mero fenômeno meteorológico.


Para começo de conversa, a geometria era por demais regular. De fato, a Zona de Transição poderia ser descrita como uma única nuvem gigantesca, com a forma de um disco quase perfeito - com muitos e muitos quilômetros de diâmetro, e várias centenas de metros de altura.


Toda essa altitude não era, porém, uma única “parede” nebulosa lisa, subindo direto na vertical, sem interrupções, das ondas até o topo. Na verdade, muito pelo contrário, ela era dividida em camadas superpostas, uniformemente espaçadas - dando à Zona de Transição o curioso aspecto de um gigantesco… bolo, impossivelmente flutuando sobre o alto mar.


Os espaços entre essas camadas eram preenchidos por um relampejar quase constante. De fato, toda essa atividade elétrica era a origem do nome alternativo pelo qual a Zona de Transição também era frequentemente chamada.


As Névoas Trovejantes!


Os relâmpagos estavam particularmente visíveis nas condições de iluminação lá fora - já que a Hidronave havia chegado às imediações da Zona de Transição na hora do crepúsculo. Luhkien imaginava que ao um menos um dos dois sóis amarelos gêmeos do Sistema Talahpa já devia estar tocando o horizonte do outro lado da hidronave, na direção da popa… mas não havia como realmente saber, já que ele e Eustahk estavam na proa.


Na verdade, sabendo que aquela era a primeira vez que seu Discípulo iria cruzar a Zona de Transição (ou mesmo a primeira vez que ele via as Névoas Trovejantes com seus próprios olhos), Mestre Eustahk o levou para aquele que era o melhor lugar a bordo para se observar o evento: o Mirante de Proa. 


Este era um grande salão semi-circular, localizado - como o nome já dizia - na parte frontal da hidronave. A parede em arco acompanhava a curvatura do casco exterior, inclinada para o lado de dentro, e era inteiramente transparente… feita de grandes placas de vidro que iam do teto ao chão. 


Assim, de lá era possível desfrutar de uma magnífica visão de cento e oitenta graus do mundo exterior. Um panorama que, no momento, era inteiramente dominado pela Zona de Transição.


As partes enevoadas da formação estavam já ligeiramente tingidas de tons róseos e avermelhados, devido à luz do crepúsculo vinda do outro lado da hidronave. Enquanto isso, os relâmpagos pareciam cada vez mais brilhantes em meio à crescente semi-escuridão.


Do outro lado da Zona de Transição, as primeiras estrelas do Undécimo Anel Galáctico já começavam a brilhar, se alinhando na faixa de alta densidade característica dividindo o céu. 


acima das Névoas Trovejantes, Zadohpus, o imenso planeta gasoso ao redor do qual Grendohr girava, aparecia como um enorme crescente cortado por faixas coloridas avermelhadas. Ele era ainda envolvido por um complexo sistema de anéis, sendo que o mais exterior - fino e comparativamente escuro - era visivelmente inclinado em relação aos demais.


Sim, embora Grendohr frequentemente fosse chamado de “planeta” (numa imprecisão muito comum ao longo da Galáxia, onde a palavra era usada meio que como sinônimo de “mundo”), na verdade, tecnicamente, era uma lua. Uma das quatro grandes luas orbitando ao redor de Zadohpus.


No momento, apenas duas das outras três luas estavam visíveis no céu: Tridehtus e Zontohr. A última era exatamente a que Luhkien estava procurando - e por um motivo bem simples: era para lá que a hidronave ia… após adentrar adentrar a Zona de Transição e “saltar” por entre os mundos, através do Empíreo.


A Viagem de Luhkien - Parte 1

“Jovem Luhkien, contemple: a Zona de Transição!” O tom usado por Mestre Eustahk foi tão pomposo e exagerado que chegou a soar um tanto cômic...